Se recebesse o boto
o poder de falar por um minuto,
diria sem rodeios:
"Sim, meu sorriso é permanente
e gosto demais da cor rosa.
e gosto demais da cor rosa.
E sim, sempre achei engraçados
aqueles contos que me retratam
como o libertino amazônico,
culpável de qualquer
gravidez
"misteriosa."
Mas ora gente,
suficiente tenho com
esquivar
redes de pesca e hidrelétricas
navegar
entre poluição e motores de lancha,
então
não abuse do meu
comportamento amistoso.
Deixe de me
matar de me
massacrar e de me
despedaçar:
Meu olho, arrancado, não atrai mulheres.
Meu pênis, desmembrado, não dá para feitiço varonil.
Minhas nadadeiras, separadas, não oferecem remédio nenhum.
Minha carne desfeita: ah, minha carne sim é boa
para piracatinga alimentar.
Mas que seja quando eu morrer,
finalmente,
naturalmente,
não porque você me mate agora!
Rio sem botos é como boto sem dentes,
é um desequilíbrio descomunal.
Deixe de me matar.
Eu e você somos seres inteiros e complexos,
tanto como o rio.
Obrigado."
Ouviu?
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