Altas, amarelas, delgadas e puras, rodeadas por cogumelos: são as árvores como falos que as mulheres da tribo abraçam e mordem... Estas árvores selváticas não são seringueiras que dão látex. Melhor ainda: a casca destas árvores possibilita a fertilidade ilimitada das mulheres ao longo de todos os anos da vida. Além disso provém a única defesa natural contra a malária. Quase a fonte da juventude em forma botânica, eis o tesouro do romance State of Wonder escrito pela celebrada autora norte-americana Ann Patchett.
A protagonista--a Dra. Marina Singh--sai do frio de Minnesota pra selva amazônica na procura do companheiro de trabalho desaparecido, talvez morto já. Fica claro que Marina vai achar mais do que isso: encontrará a famosa cientista Dra. Annick Swenson, paga pela mesma empresa farmacológica onde trabalha Marina e cujo presidente é o amante de Marina. No tempo que leva nos altos do Rio Negro, a Dra. Swenson tem desenvolvido todo um sistema de aliados e evasivas--não porque não tenha resultados, mas sim porque tem que protegê-los: proteger o precário segredo das altas árvores amarelas. Swenson, comparável com Kurtz do Heart of Darkness, dá vida e dá morte e dá vida-morte nesta narrativa em que os poderes da mortalidade concentram-se nas suas mãos. (A narrativa nos leva com um suspense apoiado pela memória de uma operação cesariana malfeita por Marina.)
O texto descreve a selva com seus insetos e a inevitável cena com uma cobra anaconda. A cidade de Manaus, onde visitei, é também descrita com precisão imaginativa. Conhecendo a área, e parte do folclore regional, eu tivesse gostado de ver no romance uma maior conexão com a iara, por exemplo, ou outros tropos amazônicos de sempre, pois as árvores que são o objetivo das pesquisas farmacológicas no romance, sugerem a conexão com tantos outros exemplos de produtos e seres explorados. Também tivesse gostado de um melhor cuidado do "bom e velho português" (nem que a minha expressão no idioma fosse perfeita). Em State of Wonder o português aparece só em algumas palavras ou frases breves, erradas com freqüencia - "jaca" (faca), "Dr." (Dra. quando mulher), e "obrigado" por "obrigada" quando fala uma personagem feminina que já deve saber disso!
O romance anterior da autora, Bel Canto, também é situado na América do Sul, em um país não identificado. Fica evidente o apreço que tem Patchett pelas maravilhas do continente. A maior maravilha, porém, talvez seja a ousadia de escrever um romance com final feliz (relativamente feliz) - de afirmar que as nossas opções humanas nem sempre são tão trágicas.
Wednesday, July 11, 2012
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