Bruce Dean Willis

is Professor of Spanish and Comparative Literature at The University of Tulsa. His research and publications focus on diverse aspects of poetry and performance, and expressions of Indigenous and African cultures, in Latin American literature, particularly Brazil, Chile, and Mexico.

TIME FOR CHOCOLATE is available for purchase through One Act Play Depot! A brief description:

An intoxicating evening of music, poetry, and chocolate... in pre-conquest Mexico!
Based on a fifteenth-century dialogue among nobles schooled in rhetoric and philosophy, the play pits father against son in a war of words over the power and beauty of artistic expression.

Monday, November 30, 2009

Oxum Pinta a Arara

My version of an etiological legend about Oxum, Afro-Brazilian goddess of beauty and of rivers, lakes, and cascades, and the origin of the scarlet macaw. 

Com as penas douradas e azuis, a arara ostentava as cores prediletas de Oxum, a orixá da beleza e das águas doces. Por isso era o pássaro preferido dela. Além disso, aquele primo dos papagaios adorava construir ninhos em buracos seguros perto das cachoeiras, fenômenos naturais sagrados da orixá. Muitas eram as tardes nas que a deusa tomava banho na espuma de algum salto d'água enquanto observava o ir e vir das coloridas e barulhentas araras. Oxum as saudava com risos de alegria. Voavam ao redor das redondezas fluidas dela, suas curvas corporais parecidas às correntes dos rios, e ela brincava com o espelho, fazendo jogos de luz com os raios do sol refletidos entre as folhas das árvores. As vezes ela mergulhava para escolher alguns seixos, objetos também sagrados dela, e os jogava no ar para as araras os pegarem no bico, em pleno vôo. Depois Oxum convertia os seixos apanhados em colares e cintas para se enfeitar o colo e os quadris.

Certa filha de Oxum tinha se casado com Oxalá, o orixá principal. Era uma de três esposas dele, e as outras duas sentiam inveja dela. Prepararam um ungüento vermelho que colocaram na cadeira dela, fazendo que ela quebrasse dessa maneira um tabu de Oxalá, aparecendo diante dele ensangüentada.

Envergonhada, ela procurou a mãe, Oxum. Então Oxum despiu-se e despiu a filha. Entraram em um lago, deixando fluir o sangue menstrual da filha, que fazia uma mancha vermelha sobre a face da água. Oxum chamou as araras. Elas vieram e voavam perto dela enquanto a orixá disse, "Vou pintar vocês com este o sangue da minha filha, o sangue que significa a fertilidade feminina, o sangue que obedece a regra da lua grávida e da maré cheia. Eis o sangue que pinta o ciclo do tempo e d'água, o ciclo reprodutivo traçado no círculo eterno do seixo, na meiga redondez do seio materno. Vocês ficarão vermelhas, com traços do dourado e azul originais, para dar asas à fecunda criatividade em todas as formas."

Assim dizendo salpicou as caudas e as cabeças dos pássaros preferidos, que extendiam suas penas para maximizar a absorção da cor, dando grasnidos de gozo. Ficaram todos de um vermelho intenso que realçava o azul e o dourado reservados às asas. Em celebração, as araras voaram em formação sobre os verdes das copas das árvores, sobre o branco das nuvens e o azul-celeste do céu, marcando tudo com faixas de fogo ensangüentado. Oxum viu com satisfação o espetáculo, tanto no ar quanto refletido na água.

Depois Oxalá soube do engano das duas esposas, e da transformação do sangue que fizera Oxum. Proclamou então que as penas vermelhas da arara seriam objetos e enfeites sagrados dele, e recebeu novamente a filha de Oxum como esposa.

Até o dia de hoje, algumas pessoas, às vezes, profirem a tolice de que as mulheres devem sentir vergonha do período mensal. Porém as mulheres sábias, e os homens sábios também, se lembram da origem das penas vermelhas da arara, e sentem, com Oxum, o orgulho da capacidade procriadora das mulheres e da criatividade geral.

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