Bruce Dean Willis

is Professor of Spanish and Comparative Literature at The University of Tulsa. His research and publications focus on diverse aspects of poetry and performance, and expressions of Indigenous and African cultures, in Latin American literature, particularly Brazil, Chile, and Mexico.

TIME FOR CHOCOLATE is available for purchase through One Act Play Depot! A brief description:

An intoxicating evening of music, poetry, and chocolate... in pre-conquest Mexico!
Based on a fifteenth-century dialogue among nobles schooled in rhetoric and philosophy, the play pits father against son in a war of words over the power and beauty of artistic expression.

Thursday, May 27, 2010

Iracemo, ou Américo

Iracema e América. Uma é mulher, e a outra, terra: relação anagramática estabelecida por José de Alencar no popular romance epónimo de 1865, entre o nome da "virgem dos lábios de mel" (do tupi) e o continente chamado pelo nome do cartógrafo e navegador Vespucci. Aliás uma metáfora tão velha quanto Eva - o útero da mulher é terra que dá frutos. Daí no romance de Alencar o continente indígena explorado é femenino, e o explorador europeu, masculino. O fato de ela ser virgem é indicativo de que os europeus ignoraram, às vezes sem querer, os descobrimentos feitos pelos próprios indígenas enquanto às características do meio ambiente deles. Por isso Iracema é também sinónimo da utopia (América), imaginada, desejada antes de procurada pelos marinheiros do velho continente, masculinos na grande maioria. Eles imaginaram também as Amazonas; desejo deles de serem os conquistados?

Então, qual fêmea é quem? Quem tem seios e quem montanhas? Quem tem sistema fluvial e quem fluxo menstrual? A equivalência alegórica une campos semânticos e os confunde, um contendo o outro e vice versa, sugerência que resulta do arranjo anagramático dos dois As, um C, um E, um I, um M e um R nos nomes delas. São quase as mesmas letras que conformam o nome do filho, MOACIR, fruto de Iracema e do guerreiro português Martim. Na sopa de letras de "Moacir" só falta é mesmo o O de "Iracemo" ou "Américo."

Uma pergunta: seria o caso que a mulher pode ser a exploradora, e o homem--o "Iracemo"--a metáfora da terra? Existe uma possível interpretação desse motivo no Popul Vuh, "Conselhos da Comunidade" dos maias quiché. A intrépida garota Ixquic recebe na mão a saliva da boca do Han-Hunahpu, cuja cabeça cortada pendura duma árvore depois de sacrificado pelos Senhores da Morte. Pela saliva ela fica grávida com os gêmeos, Hunahpu e Ixbalanqué, que convertem-se em heróis do povo. E da mesma Pindorama, terra de Iracema, temos um exemplo das Estórias do Vovô Pajé por Emil de Castro: "A Serpente que Foi para o Céu." Coisa parecida ao caso quiché: um cabelo do homem, colocado num ovo que a mulher chupa, impregna ela. Depois a saliva masculina que enche uma sorva fala, e nasce uma serpente que, como os heróis gêmeos, sobe ao céu e converte-se em presença natural benévola ao fim do conto.

Estamos vendo que, de jeito autóctone ou de maneira européia, a metáfora fica inalterável: da terra sai o fruto e da mulher sai o filho, seja ele serpente, herói, ou a personificação romântica da mestiçagem. "Iracemo" parece ser uma alegoria pouco frutífera mesmo, a não ser ele, como sugerido anteriormente, outro aspecto anagramático de Moacir como filho de dois sangues e fundador de um povo mestiço!

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