Bruce Dean Willis

is Professor of Spanish and Comparative Literature at The University of Tulsa. His research and publications focus on diverse aspects of poetry and performance, and expressions of Indigenous and African cultures, in Latin American literature, particularly Brazil, Chile, and Mexico.

TIME FOR CHOCOLATE is available for purchase through One Act Play Depot! A brief description:

An intoxicating evening of music, poetry, and chocolate... in pre-conquest Mexico!
Based on a fifteenth-century dialogue among nobles schooled in rhetoric and philosophy, the play pits father against son in a war of words over the power and beauty of artistic expression.

Monday, October 31, 2011

Abóboras das Américas

Verdes, amarelas, brancas, ou cor-de-laranja; enormes ou pequeninas; lisas ou ásperas, as abóboras americanas têm um papel fundamental não só nas tradições alimentícias mas também no folclore do hemisfério. Sabemos por evidências arqueológicas que foram cultivados diversos tipos de abóboras há dezenas de séculos nos Andes e em Meso-américa, e que através do tempo as abóboras têm complementado o regime básico de feijão, milho, batatas e pimentas. Nos principais idiomas americanos de hoje, os nomes das variedades são múltiplos: pumpkin, zapallo, abobra, squash, porongo, gourd, sem esquecer os primos calabaza, cabaça, e calabash, mesmo que estes últimos não aludem ao mesmo fruto.

No folclore americano a família das abóboras é associada à origem do mundo e também ao ciclo da vida. Por exemplo, segundo a mitologia taína, Deminán era o filho de Yaya, espíritu divino. Deminán fez cair, do teto da barraca de Yaya, uma abóbora que continha os ossos do irmão mais velho dele. Quando a abóbora rompeu no chão, nasceram dela os rios, os lagos, os mares, e dos ossos do irmão nasceram todos os peixes. Com certeza as sementes da abóbora parecem peixes!

Também na cosmologia maia do povo quiché, na estória dos gêmeos heróis do Popol Vuh, a abóbora tem um papel importante como metáfora plurivalente. Um dos gêmeos utiliza uma abóbora para substituir a cabeça do irmão, morto por um morcego que lhe tirou a cabeça. (O pai deles tivera perdido a cabeça, que foi pendurada numa árvore e de onde produziu saliva-sêmen que engravidou a mãe dos gêmeos.) Com a cabeça-abóbora, os gêmeos enganaram os Senhores de Xibalbá, o Lugar dos Mortos, no jogo parecido com o futebol que era típico dos povos meso-americanos. Depois os gêmeos converteram-se na Estrela da Manhã e na Estrela da Tarde (Venus). Quer dizer que a abóbora forma um elo unindo uma série de imagens relacionadas cosmologicamente: cabeça, balão, estrela, e as épocas cíclicas do universo.

Aquilo de subsituir a cabeça por uma cabaça é um motivo repetido na célebre lenda norte-americana, escrita por Washington Irving, "The Legend of Sleepy Hollow." O fantasma do cavalheiro degolado leva uma abóbora como se fosse cabeça, a que atira e atinge no amedrentado Ichabod Crane no caminho desolado de uma noite de outono. Fica claramente implicada aqui a tradição do jack-o'-lantern, costume que praticava-se na Irlanda entalhando o nabo para fazer uma lanterna vegetal mas que, uma vez transplantada aos Estados Unidos, assumiu o rosto da abóbora.

No Brasil também abundam abóboras, e outros frutos da mesma família genérica (como o melão e a melancia), nas lendas que implicam o ciclo da vida de várias fontes indígenas (como o nascimento, de um melão, da serpente-via láctea). Segundo Câmara Cascudo, a origem da personagem da "cuca" pode ser no fato de essa palavra significar, em algumas regiões do país, a abóbora quando perfurada para desenhar olhos, nariz e boca. Neste dia de Halloween e temporada mexicana do Dia dos Mortos, fica cristalizado--naquele sorriso de caveira que tem o jack-o'-lantern--o melancólico perceber, no contexto americano, do ciclo da semeada e da colheita, da vida e da morte.

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