Bruce Dean Willis

is Professor of Spanish and Comparative Literature at The University of Tulsa. His research and publications focus on diverse aspects of poetry and performance, and expressions of Indigenous and African cultures, in Latin American literature, particularly Brazil, Chile, and Mexico.

TIME FOR CHOCOLATE is available for purchase through One Act Play Depot! A brief description:

An intoxicating evening of music, poetry, and chocolate... in pre-conquest Mexico!
Based on a fifteenth-century dialogue among nobles schooled in rhetoric and philosophy, the play pits father against son in a war of words over the power and beauty of artistic expression.

Tuesday, September 28, 2010

Cordel das Iaras Irmãs

Venho contar pra vocês
um cordel de três irmãs
simpáticas e bonitas,
inteligentes e sãs,
porém elas são humildes,
não altaneiras nem vãs.

Moram numa ilha tranqüila
bem no meio da Bahia---
a que é de Todos os Santos--
nadando a periferia,
brincando e cantando estranhas
e aquáticas melodias.

Elas nadam nuas sempre--
assim descoberto o peito--
sem malícia, sem pudor,
naturais, sem preconceito,
porque estas irmãs são iaras.
Vivem nuas desse jeito!

Moqueca é a irmã mais velha.
Alta, negra, responsável,
toma conta da família,
mantém a harmonia estável.
Quando acha oportunidades,
procura a recomendável.

A segunda é Mariscada.
Moreno tem o cabelo,
pele canela, olhos verdes,
e um balanço muito belo
pois nada contra a corrente
seguindo um sonho sem vê-lo.

A mais nova, ainda pequena,
de nome Macarronada,
é ruiva, baixa, gordinha.
Disposição animada
tem, pois em todo momento
atua precipitada.

Macarronada é produto
de outra família; é adotada.
Não é baiana; é mineira.
Tem a pronúncia alterada.
Mesmo assim ela faz canto
e com suas irmãs nada!

O caso é que resolveram
cuidar da Praia da Barra
protegendo-a de inimigos
de uma maneira bizarra,
pois vão ouvir como elas agem
segundo este cordel narra.

Foi numa noite de nuvens,
acesa a luz do farol,
o lampião quase visível
como faíscas de sol,
que apareceram dois barcos
da frota do rei espanhol.

As três irmãs, espreitando,
ouviram esta conversa:
"Estos brutos de Bahia
tienen su armada dispersa."
"Después de nuestro saqueo,
¡cómo quedará de adversa!"

"Ataque!" as iaras gritaram,
e agitaram as correntes
fazendo bater as caudas.
As águas ficaram quentes
e os madeiros dos navios
soltavam fumaça, ardentes.

Com raiva na água fervida,
fizeram-se cozinheiras.
Moqueca mudou de canto,
pediu favor das palmeiras
mandarem voando os cocos
pelas brisas passageiras.

Atingiram nos navios,
dando leite em goteirões.
Chamou os outros ingredientes:
cebolas e pimentões,
alho, azeite de dendê,
tomates e alguns limões.

Chegaram voando no ar
e cairam perto dela.
Então tudo misturou.
Fez da bahia panela,
e cozinhou quanto fruto
do mar que cabia nela.

Mas Mariscada achava ruim--
sacrifício insuportável--
deixar tanto peixe morto,
pois curtia o "sustentável."
Então com Macarronada
fez um plano formidável:

Magicamente teceram,
usando uns grandes novelos
feitos de uma coleção
familiar de seus cabelos,
uma rede limitando
a área desses bons apelos.

Assim ficaram presos
os espanhóis nos seus navios:
a zona interior fervia.
Protegidos pelos fios,
na zona exterior pulavam
peixes e animais sadios.

"¡Por Dios! ¡Nos están guisando!"
os marinheiros berraram.
Suando, desesperados,
rapidamente tiraram
casacos, camisas, calças
até despidos ficaram.

As iaras os viram nus,
desarmados e perplexos.
Aí falou Macarronada:
"Os jeitos não são complexos.
A comida já está feita e
pro baile, ambos os sexos!"

Adotando aquela idéia,
lembraram dicas maternas:
morderam-se os rabos, jeito
de dar mudanças internas,
transformando o que é de peixe
numas belas e fortes pernas.

Convertidas em mulheres,
subiram nas caravelas
trazendo moqueca quente
numas mágicas tigelas.
Os homens, maravilhados,
não desistiram de vê-las.

De novo elas cantaram,
os guerreiros convidando
a comerem e dançarem
toda a noite, desfrutando
a festa náutica e nua,
o farol iluminando.

Os espanhóis aceitaram.
A festa foi um sucesso.
Foi mostrada a cortesia
naquele alegre congresso.
Quanto aos bons fins diplomáticos,
A nudez virou progresso!

Muitos fazem homenagem
à mensagem dessa lenda.
Com apreço se reúnem
a fazer da nudez, senda
da humanidade instruída
a ver o mundo sem venda.

Por isso é que o dia de hoje,
quando vem alguém à praia
dançar e comer ao sol
sem sunga, tanga, nem saia,
deve ter zona marcada,
todos respeitando a raia!

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